Retrospectivas e Perspectivas Divinas de Ano Novo : Os últimos dois sermões pregados pelo Príncipe dos Pregadores em vida [Publicados na revista “The Sword of the Trowel” de fevereiro de 1892]

Título original:  BREAKING THE LONG SILENCE –  Mr. Spurgeon’s last two Addresses, delivered at Menton, on New Year’s Eve, and New Year’s Morning, 1892

 

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APRESENTAÇAO E CONTEXTO

Por Armando Marcos, editor de Projeto Spurgeon

Charles Haddon Spurgeon já enfrentava durante anos, desde aproximadamente o meio da década de 1860, mas de forma mais intensa no fim dos anos 1870, constantes ataques de gota e reumatismo que o deixava longos períodos impossibilitado fisicamente de exercer suas atividades pastorais e filantrópicas. A cada fim de ano a partir do fim dos anos 70, Spurgeon passava os meses de inverno na Riviera Francesa, especificamente na cidade de Mentone, no sul da França, próximo à fronteira Italiana. Essa cidade era muito procurada por pessoas procurando reestabelecer sua saúde, e o clima ameno favorecia muito a saúde de Spurgeon.

Porém, principalmente depois da controvérsia do declínio teológico entre 1887-1888, a saúde de Spurgeon piorava cada vez mais, apresentando um agravamento de seu estado, com crises de gota e reumatismo cada vez piores, e nos últimos tempos apresentado sintomas de inflamação renal, conhecida na época como “Doença de Bright”.  Em 1890 a situação começou ficar cada vez mais fora de controle, e em 26 de abril de 1891 pela primeira vez em quarenta anos, ele foi compelido por um ataque de nervosismo a deixar o púlpito depois de entrar nele. Spurgeon conseguiu ainda pregar até a manhã de 17 de maio, quando então a doença o dominou, e apenas mais uma vez na manhã de domingo, 7 de junho, ele ficou em seu púlpito. Seu estado era tão grave que se considerou instalar um elevador no Tabernáculo Metropolitano para facilitar a locomoção do amado pastor. Milhares de pessoas oravam por sua saúde e reabilitação em todo o mundo e em todas as seções da igreja.

Apesar de sua fraqueza, ele insistiu em ir naquela semana para revisitar Stambourne em preparação para o livro de memórias da infância que estava escrevendo. Lá, sua doença reapareceu, e ele retornou a Londres. Por mais de um mês ele ficou deitado, a maior parte do tempo inconsciente, só de vez em quando livre do delírio que era uma tristeza que o acompanhavam.

Após uma breve melhora, ficou evidente que Spurgeon precisava se afastar mais ainda de seus trabalhos pastorais, e prevendo uma falta prolongada se seu púlpito, aceitou um convite do pastor presbiteriano americano A.T. Pierson para o substituir por alguns meses no Tabernáculo. Em outubro Pierson chegou em Londres, e ele partiu para o sul da França na segunda-feira, 26 de outubro, acompanhado pela Sra. Spurgeon, pela primeira vez depois de anos de doença, pelo seu irmão James Archer Spurgeon e sua esposa, seu amigo o editor Joshep Passmore, seu devotado secretário Joseph W. Harrald e mais alguns amigos. Eles chegaram ao Hotel Beau-Rivage, Mentone, sem incidentes, e lá Charles e Susannah tiveram, apesar da fragilidade de ambos, três meses de uma última lua de mel.

Na última noite do ano 1891 e no dia primeiro de janeiro de 1892, Spurgeon fez os dois discursos que você lerá, que foram posteriormente publicados sob o título “Quebrando o Longo Silêncio” no mês de fevereiro da “The Sword of the Trowel”, a revista do ministério de Spurgeon. A melhora de Spurgeon por alguns dias foi tanta que ele teve tempo de continuar a escrita de seu comentário ao evangelho de Mateus até as partes finais e selecionar sermões para um livro especial que ia ser impresso como um resumo de seu ministério, e escrever cartas para seu povo no Tabernáculo e as crianças do seu orfanato, e até mesmo mandar um telegrama para dar as condolências pela morte repentina do filho do príncipe de Gales, ocorrida dia 14 de janeiro. Nas noites de domingo, 10 e 17 de janeiro, Spurgeon queria pregar, mas por recomendação dos amigos que sentiram que Spurgeon não teria forças para pregar, ele apenas leu alguns de seus próprios escritos nos cultos organizados no hotel, e no final do segundo culto, ele anunciou o hino “As Areias do Tempo Estão Afundando” do puritano Samuel Rutherford.

Em 15 de janeiro, foi comemorado o aniversário de Susannah, e no dia 20, foi a piora final de Charles Haddon Spurgeon. Nas palavras de seu secretário Harrald: “À noite, sua mão doía tanto por causa da gota que ele foi dormir cedo; e daquela cama ele nunca se levantou. No dia seguinte, uma gota na cabeça aumentou nossa ansiedade em relação ao nosso querido paciente e, desde então até o fim, foi necessário que ele fosse atendido com amor e cuidado, dia e noite; e esse serviço foi prestado com muita alegria e boa vontade. Ninguém previu que a doença assumiria uma forma tão terrível, embora o querido doente nos assegurasse que sua cabeça doía exatamente como quando voltou de Essex no verão, e ele temia ficar tão doente quanto antes. estive em “Westwood” durante aqueles meses de ansiedade do ano passado. Foi nessa época que o Sr. Spurgeon me disse: “Meu trabalho está concluído”, e falou de vários assuntos que mostravam que ele sentia que seu fim estava se aproximando. Mesmo assim, todos nós nos apegamos à esperança de que ele seria poupado para nós e até mesmo autorizado a pregar novamente; mas na manhã de terça-feira, 26 de janeiro, o Dr. FitzHenry foi obrigado a relatar a condição de seu paciente como “grave”.

Quando tudo terminou, cerca de uma hora antes da meia-noite do dia do Senhor, 31 de janeiro de 1892, o pequeno grupo de cinco pessoas, antes mencionado, ajoelhou-se ao lado da cama, e o “portador de armadura” primeiro agradeceu pelo fato de o querido sofredor estar em paz. descanse, e então elogiou todos os que haviam sido tão dolorosamente desamparados à graça sustentadora do Divino Consolador. Antes que alguém se mexesse, outra voz foi ouvida: a da amada viúva, que, naquela hora difícil, agradeceu ao Senhor pelo precioso tesouro que por tanto tempo lhe foi emprestado, e buscou no trono da graça a força e a ajuda tão dolorosamente.”

A notícia da morte de Spurgeon chegou no mundo todo como uma bomba. Muitos esperavam mais uma vez sua recuperação. O corpo de Spurgeon foi enviado para Londres e depois de vários serviços memorais fúnebres, foi enterrado no cemitério Norwood em 14 de fevereiro, de onde seu corpo espera até hoje a volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Esses dois breves sermões são as últimas pregações daquele que foi conhecido como o príncipe dos pregadores, mas que na verdade estava apenas fazendo o seu trabalho para o Rei Jesus, o verdadeiro príncipe dos príncipes. Ore para que esses textos o ajudem a refletir nos caminhos do ano passado e que possam servir de alento para o ano seguinte.[1]

 


Sermão 1 

Retrospectivas Divinas de Fim de Ano

Uma Breve mensagem pregada na noite de quinta-feira,

31 de dezembro de 1891

Por Charles Haddon Spurgeon

Para um pequeno grupo de amigos e sua esposa Susannah

Que foi sua penúltima pregação em vida, antes de seu falecimento

Em 31 de Janeiro de 1892

No Hôtel Beau Rivage, em Menton, Sul da França

(e publicada e editada na revista “The Sword of the Trowel” de Fevereiro de 1892, com o título de “Rompendo o longo silêncio”)

 

Queridos amigos, não posso dizer muito a vocês. Eu gostaria de tê-los convidado alegremente para a oração todas as manhãs se pudesse ter encontrado vocês. Mas eu não estava suficiente forte para fazê-lo. Todavia, não posso deixar de falar com vocês, nesta última noite do ano, como uma Retrospectiva, e talvez na manhã de Ano Novo, eu possa acrescentar uma palavra ao título de uma Perspectiva. Chegamos tão longe na jornada da vida, e estando no limite de outro ano, olhamos para trás. Você não precisará de mim para tentar elaborar palavras e frases bonitas: cada um, com seus próprios olhos, agora examinará o seu próprio caminho. Continue lendo

Falece Charles Haddon Spurgeon, em Menton, sul da França, em 31 de janeiro de 1892 – “Hoje na História da Igreja”

Por Armando Marcos

Hoje relembramos quando Charles Haddon Spurgeon, conhecido em seus dias como “O Príncipe dos Pregadores” e “Último dos Puritanos”, o maior pregador batista de língua inglesa da segunda metade do século XIX, entrou na Glória eterna em Cristo, na noite de 31 de Janeiro de 1892. Faremos um pequeno apanhado dos acontecimentos que contribuíram para que esse dia ficasse marcado na memória protestante inglesa, e de todo o povo de Deus em geral.

Spurgeon já enfrentava constantes problemas de saúde relacionados com frequentes crises de gota reumática desde os fim da década de 1860. Na década de 1870, ele constantemente passava os meses de inverno na cidade de Menton, um balneário turístico no sul da França, por recomendação de seu médico, que acreditava que os sintomas seriam aliviados pelo clima ameno e quente. Esse local era também frequentado pelo amigo de Spurgeon, George Müller.

Charles Spurgeon, além das funções pastorais, acumulava diversas outras atividades relacionadas ao seu chamado pastoral e filantrópico, como escritor, palestrante, presidente das diversas associações vinculadas ao Tabernáculo como presidente do Colégio de Pastores, o Orfanatos para crianças, a associação evangelística de distribuição de literatura, editor, além de responder milhares de cartas e telegramas, e isso tudo realmente ajudava com que seu labor acumulasse ao ponto da exaustão.

Durante a década de 1880, cada vez mais Spurgeon se ausentava do púlpito pelas crises de gota e também nessa época foi diagnosticado com ‘Doença de Brights’, uma espécie de inflamação renal que o imobilizava frequentemente.

Após a controvérsia teológica de 1887-1888, sua saúde piorou drasticamente, com crises de gota, reumatismo e inflamação renal. Em 1890 a situação começou ficar cada vez mais fora de controle. Spurgeon conseguiu ainda pregar até a manhã de 17 de maio de 1891, quando então a doença o dominou, e apenas mais uma vez na manhã de domingo, 7 de junho, ele ficou em seu púlpito. Seu estado era tão grave que se considerou instalar um elevador no Tabernáculo Metropolitano para facilitar a locomoção do amado pastor. Milhares de pessoas oravam por sua saúde e reabilitação em todo o mundo e em todas as denominações evangélicas

Spurgeon nos anos 1890

No ano de 1891, Spurgeon certamente parecia muito mais velho do que sua real idade, e nesse tempo ele convidou um amigo americano, o pastor presbiteriano Arthur Pierson, para assumir seu lugar no púlpito do Tabernáculo em sua licença medica anual . Spurgeon pregou seu último sermão em Londres em 7 de junho. Nas semanas seguintes, empreendeu uma viagem a cidade em que foi criado com seus avós, Stambourne, no interior inglês, onde junto com um fotografo, escreveu suas memórias dessa época. No fim de outubro, partiu então para Menton acompanhado de seu secretário particular, John Harrald, seu médico particular, e pela primeira vez com sua esposa, Susannah Spurgeon. Entre Novembro e Dezembro seu estado de saúde pirou bastante, e muitos na Inglaterra fizeram grandes campanhas de oração dentre todas as congregações evangélica, desde o batistas até os anglicanos.

No fim do ano de 1891, Spurgeon apresentou uma significativa melhora, o que possibilitou que ele pregasse dois breve sermões de ano novo para seus colegas e amigos que o acompanhavam no hotel em que estavam hospedados. Spurgeon ainda por alguns dias conseguiu escrever cartas e avançar na escrita de seu livro, um comentário ao Evangelho de Mateus. Ele ficou imensamente grato pelas notícias de orações por sua recuperação, e continuaria seu trabalho ao Senhor alegremente, porém, seu estado rapidamente deteriorou-se, e entre o dia 19 e 27, agonizou com diversas dores, convalescendo ao lado de sua esposa. No dia 28, entrou em coma, e aproximadamente às 23 horas de um domingo, dia 31 de Janeiro , Spurgeon faleceu.

No dia seguinte, seu corpo foi preparado e ele foi trasladado para Igreja Presbiteriana em Menton. Assim que a notícia do falecimento saiu, os telégrafos de Menton ficaram congestionados com mensagens de pesar e luto, incluindo do Príncipe de Gales. Londres, a Inglaterra, a América e todo mundo de língua inglesa foram pegos de surpresa com o falecimento de Spurgeon , o qual não eram realmente esperado, considerando que seu estado de saúde sempre foi ruim, mas recentemente apresentara melhora, como relatado acima.

O corpo de Spurgeon então foi trasladado à Londres, e foi velado no Colégio de Pastores durante alguns dias, nos quais os alunos puderam prestar seus respeitos, e também no Tabernáculo Metropolitano, onde durante dias milhares de pessoas visitarem os serviços fúnebres , o que causou grande comoção. Em 14 de fevereiro, foram realizados os serviços finais, nos quais Iain Sankey, amigo de Spurgeon e colega de D.L.Moody, cantou hinos, e muitos pregadores pregaram. Spurgeon foi então levado em cortejo por Londres até o Cemitério de West Norwood, onde os pastores Pierson e Archibald Brown, colegas de ministério de Spurgeon, fizeram suas considerações finais, e o Bispo anglicano de Rochester fez uma oração final.

Desde então, o corpo de Spurgeon, hoje ao lado de sua esposa Susannah e de seus filhos Thomas e Charles Jr, esperam o dia quando o Senhor voltará e eles se levantarão em corpos ressuscitados para glória final.

Bibliografia consultada 

Spurgeon : Uma nova Biografia, de Arnold Dallimore, PES

Autobiografia de Charles Spurgeon, em 4 volumes, compilado por Susannah Spurgeon

O Spurgeon que foi esquecido, de Iain Murray, PES

Saiba mais sobre C.H.Spurgeon

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