Sermão pregado na manhã de Domingo, 1º de Janeiro de 1860,
por Charles Haddon Spurgeon.
Em Exeter Hall, Strand, Londres.
“Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.” 1 Pedro 5:10.
O apóstolo Pedro passa da exortação para a oração. Ele sabia que a oração marca o fim da pregação no ouvinte, mas que a pregação do ministro deve ir sempre acompanhada de oração. Havendo exortado os crentes a caminhar com firmeza, dobra os seus joelhos e os encomenda à vigilância zelosa do céu, implorando sobre eles uma das maiores bênçãos que o coração mais afetuoso alguma vez haja suplicado.
O ministro de Cristo deve exercer dois ofícios ao povo que está ao seu cargo. Deve lhes falar por Deus e falar a Deus por eles. O pastor não terá cumprido, todavia, com toda a sua sagrada comissão quando tiver declarado todo o conselho de Deus. Somente terá cumprido uma metade. A outra parte deverá desempenhar em segredo, quando carregar em seu peito, como o sacerdote nos tempos antigos fazia, as necessidades, os pecados, as provações e as súplicas de seu povo diante de Deus. O dever diário do pastor cristão consiste por um lado em orar por seu povo, e por outro em exortar, instruir e consolar a esse povo.
Há, contudo, situações especiais quando o ministro de Cristo se vê constrangido a pronunciar uma bênção incomum sobre seu povo. Quando um ano de tribulação passa e outro ano de misericórdia começa, podemos expressar nossos sinceros agradecimentos por Deus ter nos preservado, e nossas fervorosas súplicas por milhares de bênçãos sobre as cabeças daqueles a quem Deus encomendou debaixo do nosso cuidado pastoral.
Esta manhã, tomei este texto como uma bênção de ano novo. Vocês sabem que um ministro da Igreja da Inglaterra sempre me proporciona o tema para o novo ano. Ele ora muito antes de selecionar o texto, e eu sei que hoje está oferecendo esta precisa oração por todos vocês. Ele constantemente me favorece com um tema, e sempre considero meu dever pregar sobre ele, e desejar que meu povo o recorde ao longo de todo o ano para que sirva de apoio no tempo de sua tribulação, como um delicioso manjar, como uma bolacha com mel, como o pedaço do alimento de um anjo, que possa pôr sobre a sua língua e levá-lo até que finalize o ano, para logo recomeçar com outro doce texto. Que bênção maior poderia ter escolhido meu amigo ancião, de pé hoje em seu púlpito, levantando mãos santas para pregar ao povo em uma pacífica igreja camponesa? Que bênção maior poderia implorar ele para os milhares de Israel, que esta bênção que em seu nome pronuncio sobre vocês neste dia: “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.”
Ao pregar sobre este texto, terei que explicar: primeiro o que o apóstolo pede ao céu; e logo, em segundo lugar por que espera recebê-lo. A razão de sua esperança, de receber o que pede, está contida no título que utiliza para se dirigir ao Senhor seu Deus: “MAS O DEUS DE TODA A GRAÇA, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo”.