Sermão pregado na noite de Domingo, 9 de Junho de 1889
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.
Então Jesus, clamando em alta voz, disse: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito. E havendo dito isso, expirou”.
Lucas 23: 46.
Estas foram as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo ao morrer: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Poderia ser instrutivo que lhes recordasse que foram sete as palavras de Cristo na cruz. Se denominamos cada um de Seus clamores ou expressões com o título de: “uma palavra”, então falaremos das últimas sete palavras do nosso Senhor Jesus Cristo. Permitam-me repassá-las neste momento:
A primeira palavra, quando o cravaram na cruz, foi: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem”. Lucas preservou esta palavra. Mais tarde, quando um dos ladrões disse a Jesus: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reino”, Jesus respondeu: “De certo te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Esta palavra também foi preservada cuidadosamente por Lucas. Mais adiante, estando em grande agonia, nosso Senhor viu Sua mãe, que estava junto à cruz com um coração quebrantado; observou-a com amor e dor indizível, e lhe disse: “Mulher, eis aqui teu filho”; e ao discípulo amado disse: “Eis aqui tua mãe”, e assim forneceu um lugar para ela quando partisse. Esta expressão foi preservada unicamente por João.
A quarta e mais central das sete palavras foi: “Eloi, Eloi, lama sabactani?, que traduzido é: Deus meu, Deus, por que me desamparaste?” Esta foi a culminação de Sua dor, o ponto central de toda Sua agonia. Essa palavra, a mais terrível que jamais brotará de lábios de homens para expressar a quintessência de uma agonia agudíssima, é sabiamente colocada em quarto lugar, como se exigiu de três palavras na vanguarda e de três palavras na retaguarda como suas guarda-costas. Descreve a um homem bom, a um filho de Deus, ao Filho de Deus, desamparado por Seu Deus. Essa palavra no centro das sete se encontra em Mateus e Marcos, mas em Lucas e João não. A quinta palavra foi preservada por João e é: “Tenho sede”, a mais breve, mas, talvez, não a mais incisiva de todas as palavras do Senhor, ainda sob um aspecto corporal, possivelmente seja a mais dilacerante de todas elas. João entesourou também outra palavra preciosa de Jesus Cristo desde a cruz, aquela prodigiosa palavra: “Está consumado”. Essa foi a penúltima palavra: “Está consumado”, o resumo da obra de toda Sua vida, pois não deixava nada pendente, nenhum fio foi retalhado, toda a urdidura da redenção havia sido tecida igual Sua túnica: de cima até embaixo, e consumada a perfeição. Depois que disse: “Está consumado”, pronunciou a última palavra: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”, que tomei como nosso texto essa noite, pelo qual nos aproximamos de imediato.
Diversos autores têm dito muitas coisas acerca destas sete palavras desde a cruz; e se bem eu li o que muitos deles escreveram, não poderia acrescentar nada ao que já foi dito, pois se deleitaram em refletir amplamente sobre estas sete últimas palavras; e a respeito disso, os escritores mais antigos da que seria chamada escola católica romana, não podiam ser superados, nem sequer pelos protestantes, em sua intensa devoção por cada letra das palavras agonizantes do nosso Salvador; e eles descobrem algumas vezes novos significados, mais ricos e mais raros que qualquer dos que se lhes poderia haver ocorrido às mentes mais engenhosas dos críticos modernos, que como regra são grandemente renomados com os olhos de uma topeira: são capazes de ver onde não há nada que se possa ver, mas são sempre incapazes de ver quando há algo digno de se ver. Se a crítica moderna – e o mesmo sucede com a teologia moderna – fosse localizada no Jardim do Éden, não veria nenhuma flor. É como o vento do Deserto que explode e queima, mas não tem orvalho nem unção; de fato, é totalmente o oposto dessas coisas preciosas, que é incapaz de agraciar os homens.